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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Letícia Sabatella, Geni e o Zepelim



Confesso não curtir muito o compositor e cantor Chico Buarque e suas composições mais recentes,
mas aprecio algumas de suas criações em seu início de carreira.  Destaco quatro de suas
composições que estão aqui no  Blog:  "Carolina" na voz de Caetano Veloso, em
uma edição de vídeo de Ivanete Souza "Valsinha", "Retrato em Branco

e Pretocom Pery Ribeiro, e "Homenagem ao Malandro" com o
Quarteto do Rio, que foram parte de  meu repertório.

Mas agora, vamos falar sobre a  Atriz  que em minha
modesta opinião dá um show de interpretação na composição do
Chico na Música  Geni e o Zepelim  no espetáculo  Alma Boa De Lugar
Nenhum, de Carlos Careqa, em 2011 na cidade de Porto Alegre.  A Música em
destaque fez parte do musical  Ópera do Malandro  lançada no ano de 1978, autoria de
Chico Buarque de Holanda, letra retratando a "malandragem brasileira", conceitos que se tornam
alvos de execração pública em determinadas "circunstâncias políticas", sociais, e principalmente, as morais


Milhões de aplausos à Letícia Sabatella por sua excelente performance.

carlos miranda (betomelodia) 




De tudo que é nego torto do mangue e do cais do porto ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes dos cegos dos retirantes é de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina na garagem na cantina atrás do tanque no mato
É a rainha dos detentos das loucas dos lazarentos dos moleques do internato
E também vai amiúde co's velhinhos sem saúde e as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade e é por isso que a cidade vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni joga bosta na Geni ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir ela dá pra qualquer um maldita Geni

Um dia surgiu brilhante entre as nuvens flutuante um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios abriu dois mil orifícios com dois mil canhões assim
A cidade apavorada se quedou paralisada pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante desceu o seu comandante dizendo mudei de ideia
Quando vi nesta cidade tanto horror e iniquidade resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama se aquela formosa dama esta noite me servir

Essa dama era Geni mas não pode ser Geni ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir ela dá pra qualquer um maldita Geni
Mas de fato logo ela tão coitada e tão singela cativara o forasteiro
Um guerreiro tão vistoso tão temido e poderoso era dela prisioneiro
Acontece que a donzela e isso era segredo dela também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre tão cheirando a brilho e a cobre preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia a cidade em romaria foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro com um milhão
Vai com ele vai Geni vai com ele vai Geni você pode nos salvar
Você vai nos redimir você dá pra qualquer um bendita Geni
Foram tantos os pedidos tão sinceros tão sentidos que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante entregou-se a tal amante como quem dá-se ao carrasco

Ele fez tanta sujeira lambuzou-se a noite inteira até ficar saciado
E nem bem amanhecia partiu numa nuvem fria com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado ela se virou de lado e tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia e a cidade em cantoria não deixou ela dormir...

Joga pedra na Geni joga bosta na Geni ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir ela dá pra qualquer um maldita Geni


chico buarque



fontes
imagem e vídeo: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / google

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