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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Meus Escritos - Dama de Vermelho


Sentados lado a lado, um casal almoçava
observando tudo ao redor. A comida não era
lá essas coisas, mas como a fome era muita, eles a
saboreavam com grande prazer. Salão lotado.


Pessoas de vários níveis sociais ali estavam, solitários,
mergulhados em seus pensamentos e atentos ao
ato de, literalmente, devorar o que no prato havia.
No grande salão, algumas mesas à frente,
um já grisalho senhor acomodou-se ao lado
de outro, que calma e compassadamente almoçava.
Ele arrumou a bandeja à sua frente, levou a mão à boca,
retirou a dentadura que foi  guardada no bolso da
surrada camisa e  começou a almoçar. Após terminar,
com insistência fazia sinais ao que estava
sentado ao seu lado, oferecendo a carne que
ele não conseguira comer. Seu vizinho ignorava.
Depois de muito tentar, demonstrando já certa
irritação, outro senhor que ocupava a mesa frente
dos dois e que a tudo presenciava, avisou por
gestos que seu vizinho de mesa era cego. Então, ele
ostensivamente afastou sua bandeja, pegou sua
dentadura no bolso e colocando-a, retirou-se do salão.
O outro, impassível, terminou sua refeição.

Ao lado, em uma outra mesa, um rapaz almoçava
sôfregamente. Comeu tudo, levantou e dirigiu-se ao
balcão onde novamente foi servido. Voltou para a mesa,
despejou tudo em uma garrafa pet de dois litros cortada,
olhando disfarçadamente para os lados. O ato foi repetido por
três vezes. A garrafa repleta de comida foi escondida em
uma blusa suja. Apressadamente saiu do salão.



antigo restaurante popular, porto alegre, rs


Mas o que aconteceu em seguida marcou o almoço
de uma forma surrealista. Com extrema elegância no andar
e no vestir, expressão altiva e nobre, usando um clássico
chapéu combinando com seu vestido vermelho e com seus
acessórios, uma senhora caminhava soberana, vindo na
direção deles. Todos os olhares se dirigiram à ela.
Parando a meio caminho, escolheu uma mesa e sentou.
Com classe,  colocou a bandeja à sua frente, retirou
de sua bolsa talheres e sua própria salada, arrumou tudo
com delicadeza, com finos gestos. O fato seria considerado
normal se não estivesse ela entre pessoas humildes, em
sua maioria  catadores de papéis e moradores de rua.
O casal, intrigado por ela ali estar, conjeturava se
seria ela uma rica solitária ou uma alma decadente,
alienada em um mundo de recordações. Em sua
maioria, as pessoas que ali entravam alimentavam-se
e voltavam à realidade das ruas, para muitos, o lar.

O casal terminou sua refeição e em agradecido silêncio,
sabedores que para eles toda aquela situação era
provísória, saíram. Embora ainda não soubessem como,
tinham esperança de que mudariam a realidade daqueles
dias e num futuro próximo, voltariam ali não mais com
um vale refeição gratuito, mas sim pagando o preço
cobrado pela refeição, R$ 1,00,  naquele abençoado
Restaurante Popular.


carlos miranda (betomelodia) 



fontes
imagens: arquivo pessoal  - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / google


sábado, 11 de junho de 2011

Tomie Ohtake, Uma Brasileira de Origem Nipônica



Na cidade de Kyoto, Japão, em 21 de novembro de 1913,
nascia uma Artista Plástica brasileira. Sim, brasileira. Vou explicar.


tomie ohtake

Japão. Na cidade de Quioto em 21 de novembro
de 1913, nasciaTomie Nakakubo.
Em sua juventude, Tomie, em uma conversa com
seus pais, revelou a vontade que sentia de estudar
Artes. A resposta  deles pais foi negativa, pois como
era costume na época, ela era preparada para a vida familiar,
ou seja, casar e ter muitos filhos. Anos depois, em 1936,
Tomie e seus familiares mudaram-se para o Brasil,
onde então conheceu e casou-se com Ushio Ohtake.

Mas, no ano de 1952, o antigo desejo de ingressar no
mundo das Artes foi reaceso ao conhecer Keisuke Sugano,
um pintor de origem japonesa que estava expondo suas obras
em São Paulo. Ele aconselhou-a a seguir seus ideais,
libertar a Artista que em seu íntimo estava aprisionada
pelos afazeres domésticos.

Ela então, de uma pequena sala criou seu ateliê, iniciando
sua carreira pintando paisagens paulistas.
 Aos 42 anos, decidiu trocar o figurativismo pelo abstracionismo,
pois conforme suas palavras, pretendia "pintar o que vinha
do coração e não apenas o que via".
Tomie, em 1968 naturalizou-se brasileira.

Vamos conhecer um pouco da Arte de Tomie Ohtake,
nas imagens que abaixo ilustram esta página. Sei que apreciarão. 

carlos miranda (betomelodia) 















meu destaque



fontes
imagens: arquivo pessoal - textos: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / google

( obras não tituladas pela autora )

domingo, 5 de junho de 2011

Toquinho, Aquarela



Particularmente, quando penso em Toquinho lembro de Aquarela.
Para mim, dentre muitas outras, esta é sua marca registrada. Lembra
minha estada na Argentina, quando tinha que a cantar várias
vezes em minhas apresentações. Era o "hit" da época.

Falar de Toquinho é ser repetitivo, já que sobre ele, dado ao seu enorme talento,
muito já foi dito e todos conhecem suas obras, sua vida. Então, a página de
hoje vai ser em homenagem à ele, mas também para a edição de vídeo de minha
querida esposa, Ivanete.

Para ilustrar a canção ela criou uma série de pinturas virtuais,
que nos conduzem em viagem pela letra, embalados pelos acordes da melodia.
Sei que vão gostar.

carlos miranda (betomelodia) 


( vídeo em 360p )

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando contornando a imensa curva norte e sul
Vou com ela viajando Havaí Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela brando navegando tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo sereno e lindo
Se a gente quiser ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma américa a outra eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
nNão tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
Que um dia enfim descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá

toquinho / vinicius de moraes / g.morra / m.fabrizio



fontes
imagem e vídeo: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisas: arquivo pessoal / google

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vicente do Rego Monteiro, Inspiração na Arte Indígena


o pastor


A página sobre a Arte Brasileira de hoje, é sobre um poeta.
Ou melhor, um dançarino vencedor de vários concursos
de dança. É sobre um piloto que disputou o Grand Prix do Automóvel
Clube da França,  que tinha interesse pela engenharia
mecânica. Também construiu um planador e que em
Pernambuco, foi fabricante de aguardente.


vicente do rego monteiro

Nascido em Recife, Pernambuco no ano de 1889, cidade onde
morreu no ano de 1970, Vicente do Rego Monteiro iniciou
seus estudos na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1908.
Nas Artes Plásticas, tinha várias facetas: pintor, desenhista,
muralista, ilustrador e escultor, buscando muitas vezes a inspiração
para suas obras, na cerâmica marajoara e na cultura indígena.

A pintura de Vicente do Rego Monteiro é marcada pela
sinuosidade, pela sensualidade. Comedido nas cores
e nos contrastes, suas obras nos reportam a um clima místico
quase metafísico. Temas religiosos são freqüente em sua pintura,
tendo pintado cenas do Novo Testamento com figuras que,
pela densidade e volume se aproximam da escultura.
Conheçam agora algumas de suas criações.

carlos miranda (betomelodia) 




mulher

o veado e a corsa

sem título

o gato e a tartaruga

sem título

cabeça de cavalo




destaco: sem título


fontes
imagens: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base da pesquisa: arquivo pessoal / google


quarta-feira, 25 de maio de 2011

Meus Escritos - A Gárgula



Estranhos, inusitados acontecimentos que mais
pareciam saídos de uma mente doentia, aconteceram
sem aviso naquela noite em que suas memórias esmaeciam aos
poucos. Um estranho ser que da torre de uma velha igreja, bradou
que o levaria por estranhos e surreais caminhos que revelariam os
momentos de seu passado, as suas memórias. Ele com
receio do tal ser, deu meia volta e com pressa retornou ao lar,
assustado com aquela medonha aparição.




Pensava. E pensando concluiu que um homem sem
memórias era muito triste. Não conseguia
entender a presença daquela horrível criatura na
torre da igreja, pois apesar de velha e esquecida, merecia
respeito. Definitivamente, a igreja não era o lugar dela
e ele merecia respeito também, pois as memórias
eram suas! E ele pensava, "...Meus atos e fatos são
minha propriedade e responsabilidade, então vou

recuperar minhas memórias...".

Naquele instante, armado de coragem decidiu sair
à procura da gárgula que ousou atrapalhar seu confuso
viver, que embora inútil, era dele. Sentia medo do
confronto com ela, feia, sem sentimentos e desprovida
de respeito, mas era preciso ir pois já estava
esquecendo coisas básicas tais como, quem ele era.
Ah, mas dela ele não ia esquecer não.






Tão logo decidiu, agiu rápido, saindo à procura
de suas memórias. Bem, não tão rápido. Primeiro ele
procurou um boteco e bebeu uns tragos de
coragem. Acalmou a dor na barriga no sujo banheiro
do bar, e foi para casa trocar a roupa de baixo
pois havia sujado a cueca de tanto medo. Aí sim, foi
ao encalço da criatura. Está rindo, é? Se ri é
porque não teve tal contratempo, não sabe o que
é o vazio, a dor, a falta de boas lembranças

e o pavor que a criatura causava.

E quase anoitecendo, estava de novo na frente da igreja.

Em um salto do alto da torre, a gárgula pariu na sua frente e
com sua altissonante voz perguntou: pronto para 

ir em busca de suas memórias? Se estiver, não tenha medo
basta fechar seus olhos que te guiarei até elas.

Seguindo a gárgula, ele foi conduzido à infância.
Visitou os mundos que habitou na cidade
de Rio de Janeiro. Quantos sonhos. Em um deles,
lá estava o abacateiro, alto e majestoso, onde em seu
topo uma espécie de tablado com grades ele
construiu, para ali se deitar sob o azul do céu
e o brilhar quente do sol, embalado por suaves
ventos. Ali, nunca estava só. Capitão Marvel, Zorro,
O Fantasma, Tim Tim a narrar suas aventuras ao
redor do mundo, até o Brucutu , lá das selvas de Mú,
todos personagens dos gibis que lhe eram
emprestados, que conduziam seu viver aos mundos
aos quais pertenciam a magia de uma infância
feliz, mas solitária.

Mas aos poucos, lembranças indesejáveis de
castigos e surras, abandono em casa de parentes
como se banido do seio da família houvesse sido,
encobriram o azul do céu, o brilho do sol e o
vento calmo e quente, trazendo frio e tempestade.
Pediu para continuar a busca. A gárgula ria e com
enigmático olhar, alçou voo à sua volta
parecendo atender seu pedido de continuar.

Fechou os olhos e a seguiu.




Essas recordações o deixaram triste, mas ele seguiu
em frente passando pelos mundos de sua
adolescência. A gárgula o levou até Teresópolis,
onde ele reviu um mundo de sonhos maravilhosos,
cheio de promessas, como ele sempre desejara.
Mundo e sonhos que conquistara sozinho
sem ajuda, sem orientação no qual muito bem
se saiu. Ele tinha 14 anos, idade ótima para
planejar o futuro. Boas lembranças. Sua primeira
garota, namoro firme, fazer amor, pela primeira
vez e chegar ao clímax. Inesquecível lembrança.

O cantar, iniciando carreira como profissional
em uma casa noturna, dirigir um carro
aos 17 anos sem destino por belas estradas.
O cais da Praça Mauá, Rio de Janeiro de onde
levava para Teresópolis, perfumes franceses e
relógios suíços contrabandeados.
Ele era feliz, se sentia capaz de o mundo
dominar. Sua lembranças o levaram também à Magé,
cidade interiorana do Estado do Rio de Janeiro,
mundo onde conheceu uma bela mulher que, com
seu amor, por oníricos caminhos o conduziu.
Amar, cantar, se sustentar sozinho. Aqueles mundos
o fizeram sentir o prazer das conquistas, das realizações.


Mas como em sua infância, sombras,
más recordações trouxeram amargas manitas
às doces lembranças. Peso demais. Novamente partir.
A gárgula o espiava, sobrevoando à rir seu mundo
de lembranças, o trazendo de volta à realidade.
Sem se dar por conta a seguiu sem nada dizer. 

Ainda vazio de muitas recordações estava.




Vida adulta. Talvez ali recuperasse suas memórias.
A gárgula parou no telhado de uma construção
antiga e o observava. Estava em São Paulo, capital
do estado. Era um imenso mundo. Seu primeiro
casamento e divórcio após três anos, sonho desfeito.
Suas viagens pelo Brasil à cantar. Como gerente
comercial de uma grande rede de lojas, o sucesso
alcançado, a emoção do primeiro carro zero,
comprado no ano de 1974 com o salário de apenas
um més de trabalho. E sobraram muitos cruzeiros.
Sucesso ao cantar, sucesso profissional.
Bons tempos. Boas lembranças.

A gárgula o olhou, riu, estendeu suas asas e
o conduziu a outro mundo, Piracicaba, no interior
paulista. Lá, foi o ponto de partida para realizações
distantes, outros mundos, cantando o Amor e
a Vida nas páginas da Música Popular Brasileira.
Em Piracicaba ficaram sua loja e fábrica de móveis
rústicos e colonias, O Candieiro, ótimos e fiéis
amigos, companheiros de pescarias, festas
alucinantes e longas viagens de moto.
Muitas recordações, muitos momentos que lhe
trouxeram ótimas lembranças e saudades.

Mas, como se por desagradável rotina, pesarosas
recordações se intrometeram em seu retorno,
trazendo mágoas, tristeza, encobrindo com nuvens
cinzentas seu sonhar, toldando as cores e
o brilhar das lembranças . O peso foi tanto que
ele as deixou para trás. Ainda sem suas memórias,
vazio de boas recordações, não teve escolha senão
continuar. Olhou para a gárgula notando que, algo
em sua feia cara mudara, parecia querer algo dizer.
Cansado, com tanto peso em seu viver,
a seguiu em seu louco voar. Voltou ao presente.
E suas memórias? Que fora feito delas?

Abriu os olhos e subitamente o cenário mudou.

Estava em pé frente à igreja em que tudo começara, e
ao olhar seu relógio viu que apenas poucos minutos passaram.
Sentiu em seus ombros, o já conhecido peso de sua vida.

A gárgula, na sua frente o assustou. O olhava fixamente, olhos
vermelhos, como a perguntar se entendera a viagem.
Mas o que ela queria? Quem era aquele horrendo
ser que agora o fitava? Porque o fez percorrer seu passado?
Parecendo ter lido seus pensamentos, o ofuscou com branca luz e
em seguida com voz clara e suave, lhe revelou quem era.





" Sou seu viver. Você esqueceu um fator muito
importante em sua existência. Apesar de amar a vida e
o mundo que criava para si, nunca levou em conta
que você não estava só. Dependia de outros assim como
outros dependiam de você, para que metas
fossem alcançadas. Sua vida depende exclusivamente de
suas ações e assim, como agora me vê nessa minha real forma,
você, apenas você, pode transformar em beleza e cores
sua vida. Apesar de não pertencer a esse mundo, é nele
que você tem a obrigação de existir e ser útil.

Não apenas colha, semeie e distribua seu colher,
assim sua vida será o que sempre sonhou.
Ainda não é tarde. Você é eterno. Procurei mostrar
que erros e acertos são partes normais e essenciais
de sua evolução. Aprenda com esse passeio
por seu passado e sem medo, seja e faça feliz,
quem a seu alcance estiver. "





Após essas palavras,  novamente gárgula,
ela voltou à torre de onde saíra e
em sua imobilidade, ficou a fitar o vazio.
Ele, secou as lágrimas lentamente, continuando
seu caminhar decidido a não mais valorizar
mágoas e tristezas e sim, os momentos bons que a vida
agora lhe oferece. Como por encanto, suas memórias
retornaram e com elas, um novo sentido para a vida.
Não mais tinha medo de viver.


carlos miranda (betomelodia) 




fontes
imagens: arquivo pessoal - texto: carlos miranda (betomelodia)
base das pesquisa: arquivo pessoal / meus escritos